sexta-feira, janeiro 30, 2009

luar de janeiro


a noite transforma-se,

há luar e é janeiro.

só a distância nos separa.

entregamo-nos a esse luar,

toco na minha mão

e, é a tua que sinto em meu corpo.

a madrugada encanta-nos

pela noite dentro,

desenha teu rosto

com um doce e meigo olhar,


embebeda-me a luz

e é o teu respirar que sinto

ofegante, numa entrega de prazer.

o cenário pertence-nos

na pura ilusão do querer

são guarida de anseios.

dançam olhares

em ritmo cadenciado

numa liberdade transfigurada

o sonho flutua

neste nosso luar de janeiro




helena maltez





domingo, janeiro 04, 2009

Mais um ano ...




Mais um ano está cumprido.
De repente, implacavelmente, o tempo
arrancou as suas folhas,
a vertiginosa sucessão dos números.
Despenharam-se os relógios, as clepsidras, as
varas do sol.

Gritei, contorci-me, explodi no ar como
as canas de fogo.
Mas não havia cor.
As sombras, a sombra do mal, a sombra do
medo,
a sombra da nostalgia,
adensaram os contornos da minha vida.

Desejei morrer tantas vezes,
Viajei entre baldios, colhi plantas sem nome,
quebrei os corais do último sonho,
debrucei-me em varandas que davam apenas
para a cidade das trevas.

Bebi todos os vinhos,
tudo o que nascia dos cactos, do absinto, das
juníperas alucinadas,
da cevada dos países frios.

Devorei palavras sem sentido, orações,
rosários de pérolas negras,
liturgias que jamais responderam à extrema
solidão do homem.

Abracei um corpo de inocência perdida e
estremeci,
e esse corpo estremeceu na inquietude da
minha vida desesperada.
Talvez fosse amor esse agitar de asas,
esse brilho de lantejoulas enlouquecidas.
Não sei.

Havia uma praça onde os cães adormeciam,
sem endereço, sem dono,
sem os antigos passeios pelos prados da alegria.
Aí estavas tu, josé,
meu amigo de desumana voz,
a guardar o meu sono, a angústia das suas praias.

Mas não dizias nada.
Eras o único caminhante desses planetas para
onde eu partia,
sempre que Deus me chamava,
com a sua urgência inexplicável.

Penso sempre no seu trono de jóias raras,
sob as árvores frondosas,
e procuro a sua mão sobre a minha fronte,
sobre o meu pensamento de casas puras.

Já não tenho casa.
Fiz do desabrigo um imenso campo de anis e
flores altas.
A minha cama é essa planície onde os
animais se deitam, sem pensar em nada.
Por isso não quero a mentira dos povos, as
estátuas de bronze,
as armas brancas atrás das costas.

Quero um barco de papel, um espelho de
água, um lago.
Mais nada.



José Agostinho Baptista

os silêncios são uma prece…

  os silêncios são uma prece… escuto-os dentro das noites que atravesso! prendo-me ao rumor do vento quero um dia limpo, na vertigem de qua...